
Cuidado! O final de ano se aproxima e ao seu lado pode estar algum infeliz querendo propor a realização de um amigo oculto. Os chatos de plantão acham divertidíssimo, mas os indivíduos dotados de bom senso reconhecem que essa prática, aparentemente inofensiva, pode motivar traumas irreversíveis.
Minha triste experiência com tão peculiar modo de trocar presentes iniciou-se ainda nos tempos de primário. Mal a folhinha de Novembro era arrancada, a “tia” realizava o sorteio dos papeluchos contendo os nomes e distribuía a indefectível circular solicitando que os alunos levassem um pratinho de doces ou salgados para a festa de conclusão do ano letivo. Eu ficava doente só de pensar em participar (sempre fui neurótico), mas o boletim só seria entregue durante o evento, portanto não tinha escapatória. Chegado o Dia D, a tortura era sempre a mesma:
a) as professoras selecionavam os melhores acepipes para sua festinha particular, nos deixando com a gororoba;
b) a humilhação suprema, ficar no centro de um círculo humano dando pistas sobre quem era o meu amigo oculto;
c) sempre dar bons presentes (geralmente jogos de tabuleiro) e ganhar as maiores porcarias (um quebra-cabeça foi a exceção que confirmou a regra). Tinha gente que perdia as estribeiras e soltava os bichos para cima do colega avarento, pelo menos eu conseguia manter o sorriso amarelo (que consolo).
Um desses festejos foi memorável, até hoje tenho uma cristalina lembrança. Me atrapalhei com o horário e acabei chegando bastante atrasado à escola. O garoto que eu tinha tirado já estava aos prantos, inconsolável pelo fato de seu amigo oculto ter faltado. Após os devidos esclarecimentos, ele recebeu o presente a que tinha direito e repassou o que estava originalmente destinado a mim (de uma menina que havia me tirado). Foi aí que compreendi o desespero do moleque... também tive vontade de chorar ao ver que estava sendo mimoseado com uma caixa contendo três pares de meias (daquelas bem ordinárias). Só não sucumbi às lágrimas porque já tinha o casco endurecido por decepções anteriores. Pois é, ainda estão para inventar algo que crie mais inimizades do que o tal de amigo oculto.
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